Em cada dez brasileiros, seis não se utilizaram de nenhuma modalidade de crédito no período; 22% dos usuários de cartões começaram 2018 entrando no rotativo e 78% dos consumidores fecharam o mês sem sobras de dinheiro
O Indicador de Uso do Crédito apurado pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) revela que 22% dos brasileiros tiveram crédito negado no último mês de janeiro ao tentarem parcelar uma compra em estabelecimentos comerciais ou contratar serviços a prazo. A falta de comprovação de renda ou insuficiente de renda (36%) e as restrições ao CPF (31%) em virtude da inadimplência foram as principais razões para a negativa.
De acordo com a sondagem, em cada dez consumidores, seis (58%) não se utilizaram de nenhuma modalidade de crédito no último mês de janeiro, como cartões, crediário, cheque especial, linhas de financiamentos ou empréstimos. Outros 42% mencionaram ao menos uma modalidade a qual tenham recorrido no período. Em dezembro, período de tradicional aquecimento das vendas no varejo, esse índice era ligeiramente maior e atingiu 46% dos consumidores. Ainda assim, o número observado em janeiro deste ano é o segundo mais elevado desde junho de 2017, quando 44% dos brasileiros haviam se utilizado de ao menos um tipo de crédito naquele mês.
Os cartões de crédito (36%) e o crediário (12%) foram as modalidades mais usadas em janeiro deste ano. O cheque especial foi citado por 7% da amostra e os financiamentos por 6%.
Na escala do Indicador de Uso do Crédito que varia de zero a 100, sendo que quanto mais alto, maior a utilização de modalidades de crédito, o resultado observado em janeiro ficou em 28,1 pontos, pouco abaixo dos 31,0 pontos verificados em dezembro último.
Para o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior, o resultado timido do indicador é reflexo ainda da queda nas concessões de crédito ocorrida no período mais agudo da crise. “Com a renda do brasileiro menor, a análise de crédito tornou-se mais criteriosa para evitar a inadimplência e as concessões caíram ao longo do período mais severo da recessão. Somente agora o crédito começa a recuperar-se, mas é prudente que haja controle e critérios sobre a liberação de crédito por parte das instituições e que o consumidor se mantenha cauteloso antes de se endividar”, afirma Pellizzaro Junior.
Para 51%, contratar crédito é algo difícil; 48% dos que tomaram empréstimo ou financiamento atrasaram parcela em algum momento
No total, apenas 14% dos consumidores consideram a tomada de crédito como algo fácil nos dias de hoje. Para 51%, trata-se de algo dificil, ao passo que 22% consideram regular. “Crédito fácil e sem burocracia pode parecer algo positivo aos olhos do consumidor, mas em muitos casos, a contrapartida dessa agilidade é a cobrança de taxas de juros muito elevadas. O crédito pode ser um aliado do consumidor para aquisição de bens de maior valor, mas se não bem utilizado, pode ser a porta de entrada para o descontrole financeiro” explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Sobre as dificuldades que o mau uso do crédito pode acarretar, o levantamento aponta que 48% dos tomadores de empréstimos e financiamentos atrasaram, em algum momento, parcelas dessa dívida – sendo que 15% ainda possuem prestações pendentes.
23% dos usuários de cartão de crédito caíram no rotativo em janeiro e 41% viram valor da fatura aumentar
O indicador apurado pelo SPC Brasil e pela CNDL também revela que o percentual de consumidores que não pagaram o valor integral da fatura do cartão de crédito oscilou de 28% em dezembro do ano passado para 23% em janeiro deste ano. Desse total, 10% entraram no chamado ‘rotativo não regular’, quando não há nem mesmo o pagamento do mínimo. Já 13% ficaram dentro do ‘rotativo regular’, ou seja, pagaram ao menos o mínimo da fatura. Os consumidores que pagaram o valor total da fatura em janeiro somam 76% dos usuários do cartão.
Os juros cobrados pelos bancos quando o cliente não paga o valor integral da fatura do cartão de crédito são altos e chegam a 387% ao ano, em média, no caso do não regular e, 241% no caso do regular, segundo dados oficiais do Banco Central.
Entre os consumidores que se utilizaram do cartão de crédito no mês de janeiro, 41% aumentaram o valor da fatura nesse período e somente 21% notaram um queda. Para 35% houve estabilidade. Entre os que se lembram o valor que gastaram, a média da fatura encerrada em janeiro foi de R$ 849, cifra ligeiramente abaixo da observada em dezembro último, que era de R$ 966.
A pesquisa ainda mostra que o uso do cartão já não se limita a compra de itens de alto valor, que geralmente precisam ser parcelados. As despesas correntes de todo mês também estão sendo feitas a crédito pelo consumidor brasileiro. Em primeiro lugar ficaram as compras em supermercados, citadas por 59% de seus usuários. Em segundo lugar está a aquisição de remédios, com 45% de menções. Depois aparecem gastos como roupas, calçados e acessórios (34%), combustíveis (32%) e idas para bares e restaurantes (25%).
Mesmo com inflação sob controle, preços elevados fazem 49% planejarem corte de gastos; 40% estão com as contas no ‘zero a zero’
De acordo com os dados do Indicador de Propensão ao Consumo, no último mês de fevereiro, quase a metade (49%) dos consumidores manifestaram a intenção de reduzir gastos no orçamento, contra somente 8% que planejavam aumentar o valor de suas compras. Para 40%, os gastos devem se manter estáveis. Apesar de a inflação estar sob controle, os preços elevados dos produtos (37%) é a principal razão para a contenção de gastos do brasileiro, seguido da busca constante por economizar (25%) e do desemprego (19%).
Entre os produtos que os consumidores pretendem comprar em março, excluindo os itens de supermercado, os remédios lideram a lista (28%), seguido das roupas, calçados e acessórios (19%) e da recarga para celular (18%).
O estado das finanças do consumidor colabora para esse comportamento mais cauteloso. Apenas 18% dos consumidores brasileiros estão com as contas no azul – ou seja, com sobra de recursos para consumir ou fazer investimentos. A maior parte (40%) admite estar no ‘zero a zero’, sem sobra e nem falta de dinheiro, enquanto 38% encontram-se no vermelho e não conseguem pagar todas as contas com a renda que possuem.
Fonte: CNDL